Evidências históricas da existência de Jesus, por Thiago Velozo Titillo

08/01/2014 17:40

FACULDADE DE TEOLOGIA WITTENBERG

Apologética

Evidências históricas da existência de Jesus

Thiago Velozo Titillo

 

 

            Quem foi Jesus? Os cristãos de todos os tempos têm afirmado que ele é o Messias, o Filho de Deus, o Deus que se fez homem para resgatar a humanidade perdida. Muitos pensadores têm negado essa afirmação. Filósofos o veem como um mestre da moral, um homem sábio apenas. Judeus afirmam que Jesus, se existiu, foi um rabino que trouxe uma mensagem inovadora. Tal mensagem entrou em conflito com as antigas tradições, culminando em sua morte. A ressurreição não passaria de um acréscimo mítico à história real. Alguns historiadores chegam a afirmar que Jesus jamais existiu, não passando da projeção idealista de um grupo de judeus religiosos. Mas, o que a história diz? Jesus, de fato, existiu?

 

1. O testemunho de Talo:

 

            Talo foi um historiador samaritano que escreveu na década de 50 do primeiro século. Os escritos de Talo não permaneceram preservados integralmente até os dias de hoje. O que dele sabemos, provêm de citações encontradas em outros escritores da antiguidade. Um deles é Júlio, o Africano (c. 221 d.C.). Com respeito às trevas que cobriram o céu durante a crucificação de Jesus, ele diz: “Thallus, no terceiro livro das suas histórias, explica esta escuridão como um eclipse do sol – sem justificativa, em minha opinião” (McDOWELL; WILSON, 1998, p. 41). Cumpre observar que em ocasião de lua cheia não pode haver eclipse. E foi justamente na época da lua cheia Pascal que Cristo foi crucificado (ibid.). O mais interessante, contudo, não é a explicação que ele dá às trevas, mas o fato de que ao apresentar a crucificação de Jesus como evento histórico, buscou uma explicação naturalista que justificasse o fenômeno que acompanhou tal evento.

 

2. O testemunho de Josefo:

 

            Josefo nasceu por volta do ano 37 d.C., isto é, poucos anos após a crucificação de Jesus (c. 30 d.C.). Filho de sacerdote, Josefo nasceu em Jerusalém onde recebeu sólida educação na Lei. Aos treze anos começou a estudar sobre as principais seitas do judaísmo: saduceus, fariseus e essênios, optando pelo farisaísmo. Josefo atribuiu aos zelotes a responsabilidade por incitar a guerra judaico-romana (66-70 d.C.), culminando na destruição do Templo pelas tropas do general Tito durante o reinado de Vespasiano.

            Josefo desertou para os romanos e profetizou que Vespasiano (a quem aceitou como Messias de Israel) tornar-se-ia imperador, o que de fato, ocorreu, logo após o suicídio de Nero. Assumiu um comando militar romano em 66 d.C., tornando-se conhecido como Flávio Josefo, após adotar o nome do imperador (Tito Flávio Sabino Vespasiano). Josefo casou-se quatro vezes, tendo ficado viúvo de sua primeira esposa, sido abandonado pela segunda, divorciando-se da terceira e se casando pela quarta vez aos setenta e cinco anos de idade, com uma judia de Creta com quem teve dois filhos: Flávio Justo e Flávio Simônides Agripa. Teve permissão para escrever até o fim de seus dias. Como historiador, com acesso aos registros governamentais romanos e judeus, tornou-se referência. Concluiu As antiguidades judaicas em 93 d.C. (ibid., p. 43).

            Nas suas Antiguidades 18.3.3, temos a famosa passagem conhecida como Testimonium Flavianum:

 

Havia neste tempo Jesus, um homem sábio [, se é lícito chamá-lo de homem, porque ele foi o autor de coisas admiráveis, um professor tal que fazia os homens receberem a verdade com prazer]. Ele fez seguidores tanto entre os judeus como entre os gentios. [Ele era o Cristo.] E quando Pilatos, seguindo a sugestão dos principais entre nós, condenou-o à cruz, os que o amaram no princípio não o esqueceram; [porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele]. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não está extinta até hoje.

 

            Embora alguns historiadores desconsiderem totalmente a passagem, considerando-a um acréscimo cristão posterior à obra de Josefo, é mais provável que o parágrafo seja genuíno, embora, algumas menções elogiosas a Jesus, sejam, de fato, interpolações. Os textos que estão entre colchetes e em negrito realmente não fazem sentido para um judeu que jamais aderiu ao cristianismo. Todavia, ainda assim, a passagem como um todo não pode ser descartada, sendo um forte testemunho histórico da existência de Jesus.

            Àqueles que negam a autenticidade dessa passagem de Josefo, Grant Jeffrey diz:

 

Numerosos teólogos liberais têm declarado que essa referência a Jesus Cristo e outras a Tiago e João Batista devem ser interpolações ou foram forjadas posteriormente por redatores cristãos. Em outras palavras eles concluíram que as referências de Josefo a Jesus não poderiam ser genuínas. Tal acusação de forjadura, contudo, requer uma prova cabal. Nenhum desses eruditos podem apresentar uma única cópia antiga do livro de Josefo que não contenha as passagens sobre Jesus. [...] Phillip Schaff, entretanto, declarou em seu livro História da Igreja Cristã que todas as cópias antigas do livro de Josefo, inclusive as versões nas línguas eslava (russo) e árabe, contêm as referidas passagens sobre a vida de Cristo. Cada cópia antiga do quarto e quinto séculos, em diversos idiomas diferentes, contém estas passagens. Ninguém jamais conseguiu explicar como um redator pode ter alterado cada uma dessas versões tão amplamente distribuídas nos séculos que se seguiram à sua publicação. [...] (1998, p. 97).

 

            Noutro lugar (Antiguidades dos Judeus XX, IX, 1), Josefo descreveu a morte de Tiago, irmão de Jesus e líder da Igreja de Jerusalém:

 

Estando, portanto, o sumo sacerdote Anás com tal disposição, pensou que agora tinha uma boa oportunidade, já que Festo (o procurador romano) estava morto, e Albino (o novo procurador) ainda estava a caminho; assim, ele reuniu um concílio de juízes e trouxe Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, diante deles, junto com outros homens; tendo-os acusado de violar a lei, entregou-os para serem apedrejados (apud, JEFFREY, ibid., p. 98).

 

            Essa passagem é bem menos questionada que a anterior pelos acadêmicos.

 

1.3. O testemunho de Cornélio Tácito

 

            Tácito foi historiador romano e governador da Ásia (Turquia) em 112 d.C. Referindo-se à perseguição sofrida pelos cristãos por causa da falsa acusação de Nero, disse em seus Anais XV, 44:

 

Cristus [Cristo], que deu origem ao nome, fora morto por Pôncio Pilatos, procurador da Judeia no reinado de Tibério; mas a perniciosa superstição, reprimida por um tempo, irrompeu novamente, não somente pela Judeia, onde o engano começara, mas também pela própria cidade de Roma (apud JEFFREY, ibid., p. 95).

           

            Na qualidade de historiador e político romano, é impossível que ele não tivesse acesso aos documentos oficiais do Império. Assim, sua afirmação de que Jesus foi morto por Pilatos durante o reinado de Tibério é um testemunho da exatidão histórica dos evangelhos.

           

 

1.4. Plínio, o Moço

 

            Plínio foi governador da Bitínia (Turquia), província romana, por volta de 112 d.C. Por essa ocasião, escreveu ao imperador solicitando instruções acerca de como interrogar os cristãos. Em uma de suas epístolas, declarou que os cristãos tinham

 

o hábito de se reunir num dia determinado, antes do alvorecer, quando cantavam alternadamente os versos de um hino dedicado a Cristo como para um Deus, e se comprometiam, num solene juramento, a não praticarem obras perversas nem qualquer fraude, a não roubar, não adulterar, nunca usar de falsidade nas palavras e não trair a confiança de ninguém, quando fossem chamados a isso (ibid., p. 95).

 

            Plínio não apenas afirma que os cristãos adoravam a Cristo em lugar do imperador Trajano, mesmo sob pena de morte, como também afirma que eles amavam a verdade e se afastavam do mal. É interessante observar que tais pessoas jamais se disporiam a morrer voluntariamente por alguém que soubessem ser uma fraude. Eles, de fato, sabiam da existência histórica de Jesus.

 

1.5. O testemunho de Suetônio

 

            Suetônio foi o historiador oficial de Roma em 125 d.C. Em A Vida de Cláudio 25.4 referiu-se aos cristãos como promotores de tumultos em Roma, o que causou a expulsão deles da cidade. Ele diz que os cristãos derivam da “instigação de Crestos [Cristo]” (ibid.).

 

1.6. O testemunho de Luciano de Samósata

 

            Luciano viveu em Samósata um século depois de Cristo. Em O Peregrino Passageiro, escreveu que Jesus era adorado pelos cristãos, sendo “o homem que fora crucificado na Palestina porque havia introduzido esse novo culto ao mundo” (ibid., p. 96).

 

CONCLUSÃO

 

            Além do testemunho bíblico, a existência de Jesus é atestada por vários documentos históricos. Para o cristão, a Bíblia somente é suficiente para provar a existência de Jesus. Todavia, diante dos céticos, tais confirmações de fontes não cristãs podem ser úteis no sentido de leva-los à fé.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética: resposta aos críticos da fé cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002.

 

GEISLER, Norman; BOCCINO, Peter. Fundamentos inabaláveis: respostas aos maiores questionamentos contemporâneos à fé cristã: clonagem, bioética, aborto, eutanásia, macroaevolução. São Paulo: Vida, 2003.

 

McDOWELL, Josh; WILSON, Bill. Ele andou entre nós: evidências do Jesus histórico. São Paulo: candeia, 1998.

 

JEFFREY, Grant R. A assinatura de Deus: surpreendentes descobertas bíblicas. São Paulo: Bompastor, 1998.