João 6:44 Ensina Graça Irresistível? Por Kangaroodort from ArminianPerspectives

31/01/2017 01:58

João 6:44 Ensina Graça Irresistível?

por Kangaroodort from ArminianPerspectives
Tradução: Credulo from this WordPres Blog

Como afirmei em meu último post, não há mais importante questão acerca da controvérsia entre arminianismo e calvinismo que a questão da prioridade sobre fé e regeneração. R.C. Sproul escreve,

Um ponto cardeal da teologia reformada [calvinismo] é a máxima: “Regeneração precede fé”. Nossa natureza é tão corrupta, o poder do pecado é tão grande, que a não ser que Deus faça uma obra sobrenatural em nossas almas nós jamais escolheremos Cristo. Não cremos para nascer de novo; nós nascemos de novo para crer. (Chosen By God, pg. 72)

Enquanto muitos calvinistas se recolherão ante esta acusação, eles estão basicamente dizendo que ninguém crê até ser salvo [nascido de novo]. Esta é a conclusão nua e necessária quando a cortina de fumaça teológica da teologia reformada finalmente se desfaz. Creio já ter demonstrado efetivamente por que tal doutrina é incompatível com a Palavra de Deus no meu último post. Vou agora levar algum tempo considerando alguns “textos-prova” que calvinistas têm oferecido para dar suporte à sua doutrina de regeneração irresistível. Começarei aqui onde R.C. Sproul começara em Chosen by God, com João 6:44,

Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.{João 6:44 BLIVRE}

Sproul afirma desta passagem, “A palavra-chave aqui é trouxer”. Após breve, e um tanto imprecisamente, descrever a visão arminiana que este trazer em Jo 6:44 não é irresistível, ele conclui

Estou convencido que a explicação acima [de que tal trazer é um “cortejo” resistível], que é tão disseminada, é incorreta. Ela violenta o texto da Escritura, particularmente o significado bíblicoda palavra trazer. A palavra grega usada aqui é elko. O Kittel’s Theological Dictionary of the New Testament a define como significando coagir por superioridade irresistível. Linguística e lexicograficamente, a palavra significa “coagir” (ibid. pg. 69).

Ele então cita Tg 2:6 e At 16:19, em que a mesma palavra grega é usada para arraste forçado.

Steve Witzki, um dos contribuidores da revista The Arminian observou as alegações lexicográficas de Sproul e obteve alguns resultados surpreendentes. Ele escreve,

Após investigar a definição do “Big Kittel” pessoalmente, me surpreendi que ela não concorde com a definição de Sproul sobre trazer. Albrecht Oepke comenta que no uso de helkuo por João “força ou magia podem ser descontados, mas não o elemento sobrenatural” [TDNT, 2:503]. Mesmo assim, para a definição de Sproul servir, o uso de João tem que significar coagir ou forçar. Quando eu me coloquei a procurar o que o “Little Kittel” (a edição volume-único do trabalho massivo de dez volumes do Kittel) tinha a dizer sobre “trazer”, fiquei chocado sobre o que ele dizia em comparação com as asserções dogmáticas de Sproul. Eis o comentário completo como traduzido e condensado por Geoffrey Bromiley:

O significado básico é “arrastar”, “trazer”, ou no caso de pessoas, “coagir”. Ela pode ser usada como “trazer” a um lugar por magia, como demônios sendo “trazidos” à vida animal, ou como a influência interna da vontade (Plato). A palavra semítica tem um conceito de de um trazer irresistível a Deus (cf. 1 Sm 10:5; 19:19; Jr 29:26; Os 9:7). No AT kelkein denota um impulso poderoso, como em Ct 1:4, que é obscuro mas retrata a força do amor. Este é o ponto nas duas importantes passagens em Jo 6:44, 12:32. Não há ideia alguma aqui de força ou magia. O termo figurativamente expressa o poder sobrenatural do amor de Deus ou de Cristo que alcança a todos (12:32) mas sem o qual ninguém pode vir (6:44). A contradição aparente mostra quetanto a eleição quanto a universalidade da graça devem ser tomadas seriamente; a compulsão não é automática [p. 227].

Como é? A compulsão não é automática? Mas é exatamente isto que Sproul e outros calvinistas argumentam que helkuo significa em João 6:44 – Deus literal e irresistivelmente coage, arrasta ou força o eleito a vir a Cristo. Sim, Helkuo pode literalmente significar arrastar, coagir ou forçar em certos contextos (Jo 18:10,21:6,11; At 16:19,21:30; Tg 2:6),mas não é o significado léxico do contexto de Jo 6:44, nem da mesma maneira, Jo 12:32. Sproul confiantemente afirma que “linguística e lexicograficamente, a palavra significa coagir”, mas cadê a citação de toda a evidência léxica em apoio à sua afirmação? [Steve Witzki, Free Grace or Forced Grace?, The Arminian, Vol. 19, issue 1] Você pode ler o restante do artigo aqui.

Eu adicionaria a descrição de helkuo dada no Vine’s Expository Dictionary of Old and New Testament Words,

HELKUO, trazer, difere de suro como trazer a partir de arraste violento… Esta violência menos significativa, geralmente presente em helkuo, mas sempre ausente em suro, é vista no uso metafórico de helkuo, significando trazer por poder interno, impulso divino, Jo 6:44; 12:32. (328)

Aqui, a própria conexão que os calvinistas às vezes tentam fazer (que helkuo em Jo 6:44 se refere a um arraste violento) é plenamente descartado.

Concordo com o julgamento de Forlines ao responder a um argumento semelhante proposto pelo calvinista Robert W. Yarbrough,

Penso que a evidência que Yarbrough apresenta sugere que o trazer de Jo 6:44 é forte. Não tenho problemas com a ideia de que o trazer falado em Jo 6:44 é um “trazer forte”. Mas tenho problemas com falar dele como uma “atração forçada”. Uma palavra usada literalmente pode ter uma força causal quando lidando com relacionamentos físicos. Porém, não podemos exigir que tal palavra tenha a mesma força causal quando é usada metaforicamente com referência a um relacionamento de influência e resposta. Jo 6:44 fala de um relacionamento pessoal de influência e resposta. (F. Leroy Forlines, The Quest for Truth, pg. 386- emphasis his)

É bem claro dos comentários de Sproul e dos teólogos reformados, que eles veem o trazer de Jo 6:44 se referindo à regeneração irresistível. Em outras palavras, “trazer” é sinônimo de “dar vida”. Portanto uma paráfrase adequada do ponto de vista calvinista seria

“Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou primeiro lhe der vida”

Então, de acordo com a doutrina reformada, ninguém pode “vir” a não ser que primeiro seja regenerado [i.e. dado vida]. Apenas aqueles que foram primeiro dados vida espiritual podem “vir” a Cristo. Enquanto esta interpretação pode se alinhar com os ensinos do calvinismo, ela torna sem sentido duas passagens correlatas do evangelho de João. Considere Jo 5:40,

E não quereis vir a mim, para que tenhais vida.{João 5:40 BLIVRE}(ênfase minha)

Jesus afirmou àqueles judeus que ter vida era o resultado de vir a Ele. O calvinismo ensina que vir a Jesus é o resultado de já ter recebido vida! Se a interpretação calvinista de Jo 6:44 é precisa então Jesus deveria ter dito

“E não quereis vir a mim, porque Eu não vos dei vida”.

Quando lidando com Jo 6, calvinistas são ligeiros em apontar “vir” como sinônimo de fé. Eles c hegam a esta conclusão comparando o paralelismo em Jo 6:35. Eles então leem esta conclusão em Jo 6:37,44,45 e 65. Eles provavelmente concordaiam que quando Jesus fala de comer Sua carne e beber Seu sangue, Ele também fala de fé, dado que ninguém pode ter tal relacionamento com Deus exceto mediante a fé. Jo 6:51-18 confirmaria isto:

Este é o pão que desceu do céu, para que o ser humano coma dele e não morra. Eu sou o pão vivo, que desceu do céu; se alguém comer deste pão, para sempre viverá. E o pão que eu darei é minha carne, a qual darei pela vida do mundo. Discutiam, pois, os Judeus entre si, dizendo: Como este pode nos dar [sua] carne para comer? Jesus, então, lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque minha carne verdadeiramente é comida; e meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue, em mim permanece, e eu nele. Como o Pai vivo me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem come a mim também por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu. Não como vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre. {João 6:50-58 BLIVRE}

É claro destas passagens que se deve primeiro [pela fé] comer e beber da carne e do sangue de Jesus antes de experimentar vida. A vida reside em Cristo e flui naqueles que partilham dEle pela fé. Se o conceito calvinista de regeneração anterior à fé fosse preciso, então novamente esperaríamos Jesus dizendo algo como

Se alguém comeu deste pão [pela fé] é prova de que ele já estava vivo. Este pão é minha carne que eu darei apenas aos que eu elegi incondicionalmente e regenerei irresistivelmente no mundo… Lhes digo a verdade, a não ser que vocês tenham sidos feitos vivos, não podem comer da carne fo Filho do Homem ou beber de Seu sangue. Todo a quem for dada vida eterna comerá da minha carne e beberá do meu sangue, e eu o levantarei no último dia… então aquele que está vivo se alimentará de mim… seus pais comeram maná e morreram, mas aquele que já está vivo para sempre comnerá deste pão.

A escrita é clara. Vida eterna reside em Cristo Jesus (Jo 1:4,5:26,6:35,11:25,14:6; 1Jo 1:2,5:11; Cl 3:4), e apenas aqueles que vierem a Cristo em fé experimentarão esta vida. A doutrina reformada de que se deve primeiro experimentar vida primeiro, antes que possa vir, está em desarmonia com o testemunho da Palavra de Deus.

O contexto de João seis e a ênfase teológica do evangelho de João proíbem a interpretação calvinista de Jo 6:44. O entendimento arminiano de graça preveniente, porém, faz jus ao contexto de Jo 6 e ao tom geral do evangelho de João. Steve Witzki diz bem quando conclui,

Vamos rever os últimos comentários sobre a palavra trazer do “little Kittel”:

Não há ideia alguma aqui de força ou magia. O termo figurativamente expressa o poder sobrenatural do amor de Deus ou de Cristo que alcança a todos (12:32) mas sem o qual ninguém pode vir (6:44). A contradição aparente mostra quetanto a eleição quanto a universalidade da graça devem ser tomadas seriamente; a compulsão não é automática.

O que é mais irônico em toda esta discussão é que a definição acima coincide graciosamente com a doutrina arminiana/wesleyana de graça preveniente – uma doutrina que R.C. Sproul nega que a Bíblia ensine [pp. 123-125]. Arminianos e wesleyanos creem que a graça divina trabalha nos corações e desejos de cada pessoa para extrair um resposta em fé ou como Thomas Oden coloca tão bem, “o amor de Deus habilita precisamente aquela resposta no pecador que a santidade de Deus demanda: confiança na própria graça ofertada de Deus” [The Transforming Power of Grace, p. 45].

A graça preveniente ou capacitante de Deus é moralmente atrativa de todas as pessoas para Si Mesmo (Jo 12:32). Esta obra graciosa de Deus não coage ou forçaninguém a crer mas habilita todos a respoder ao comando de Deus de afastar-se do pecado em arrependimento, e achegar-se ao Salvador Jesus Cristo em fé. Portanto, com toda a força do calvinismo, a salvação pode ser completamente atribuída a Deus, mas sem negar a genuína responsabilidade humana como o calvinismo o faz. (Witzki, Free Grace or Forced Grace?)

Concluímos com a pura declaração de Jo 20:30-31,

Jesus fez também ainda muitos outros sinais ainda em presença de seus discípulos, que neste livro não estão escritos; Porém estes estão escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus; e para que crendo, tenhais vida em seu nome. {João 20:30-31 BLIVRE}